O noticiário econômico recente está repleto de exemplos de grandes empresas que de um momento para o outro sofrem desvalorizações fortes no valor de suas ações. Por exemplo: GE, Kraft Heinz Company, Ambev entre muitas outras.
Em resumo, o valor de uma empresa é a sua capacidade de gerar riqueza no futuro. Este é o princípio básico do método de valuation pelo Fluxo de Caixa Descontado (FCD), que é mundialmente o mais aceito e é reconhecido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil.
O método FCD traz o valor futuro das riquezas geradas para o valor presente utilizando uma taxa de desconto. Esta taxa é chamada de WACC (Weighted Average Cost of Capital), que basicamente reflete o risco relativo do negócio em relação ao mercado.
Deste modo, quanto maior o risco de uma empresa, maior será a taxa de desconto e consequentemente menor o valor da empresa.
Por outro lado, o valor de uma ação é uma combinação desta expectativa de lucro futuro, mais os dividendos que a empresa paga, mais fatores de mercado como ambiente de negócios, risco do país onde a empresa opera, movimentações de mercado, ambiente político, etc.
Temos ainda casos especiais, como acidentes ambientais (ex.: Vale), acidentes aéreos (ex.: Boeing), risco jurídico, catástrofes naturais e outros fatores que podem ameaçar a saúde e o futuro de uma grande empresa.
Como é possível que em apenas 1 ano uma empresa como a Kraft Heinz Company (KHC) possa perder 65%, uma Ambev (ABEV3) perder 30% e uma General Eletric (GE) perder 60% do seu valor?
Será que essas empresas perderam sua capacidade produtiva e/ou administrativa de uma hora para outra?
Cada uma dessas empresas teve razões específicas para justificar uma queda tão forte, mas um fator é comum a todas elas: a queda na expectativa em relação ao futuro da empresa. Só para exemplificar, veja as ações da Kraft Heinz Company (fonte: yahoo.com).
A KHC é o resultado da fusão entre a Kraft e a Heinz em meados de 2015. Esta fusão foi cercada de altas expectativas em função do tamanho impressionante da empresa resultante, das enormes sinergias entre as empresas, que poderiam gerar ganhos enormes em reduções de custos e crescimento de vendas e especialmente em relação aos seus principais acionistas: o grupo G3 que já havia promovido ganhos extraordinários na Ambev e Warren Buffet, que dispensa comentários. Os resultados e as expectativas impulsionaram as ações até fevereiro de 2017, quando esta atingiu o pico de US$ 96,65. A partir daí as ações foram perdendo valor gradativamente até que no fim de fevereiro perdeu cerca de 30% em um único dia.
Mas o que aconteceu?
Em relação aos resultados, a empresa vinha apresentando performance muito positiva (fonte: yahoo.com):
Porém, a partir do primeiro trimestre de 2018, os resultados começaram a decepcionar e a empresa fechou o ano de 2018 com valores próximos aos de 2017, mas com queda nas margens operacionais e uma perigosa sinalização de queda na lucratividade.
Veja no gráfico abaixo a expectativa do mercado em relação a Kraft Heinz Company (KHS) e os resultados que a empresa entregou fonte: yahoo.com).
A empresa vinha superando as expectativas do mercado e entregando fortes resultados com a conhecida cultura das empresas do grupo G3 de grandes reduções de custos. Entretanto, chegou um momento em que a empresa decepcionou os acionistas e o mercado, não entregando o terceiro trimestre (Q3) 2018.
Em seguida, mais uma decepção no Q4 2018, quebrando fortemente a expectativa dos investidores em relação à capacidade da empresa de gerar riquezas no futuro.
Some-se a isso uma investigação aberta pela SEC (CVM americana), um ajuste contábil no valor dos bens intangíveis e uma redução de 30% nos dividendos e estava criada a tempestade perfeita para o valor das ações.
O resultado pode ser observado com mais detalhes no gráfico abaixo (fonte: yahoo.com):
GE
Vamos agora dar uma olhada no gráfico dos últimos 5 anos da GE (fonte: yahoo.com):
Primeiramente as ações que no final de 2016 chegaram a valer mais de U$ 30,00, chegaram ao valor de US$ 6,80, e estão em processo de recuperação, mas ainda muito distantes do que há alguns meses.
Como podemos ver abaixo, a empresa também decepcionou os investidores nos últimos 2 trimestres, o que explica em parte a forte queda no início de 2019 no lado direito do gráfico. Em relação aos resultados, a GE vinha apresentando performance um tanto quanto instáveis, como podemos ver abaixo (Fonte: yahoo.com):
Entre 2015 e 2017, a empresa oscilou entre lucro e prejuízo, mas com valores relativamente baixos. De fato a empresa passava também por uma forte redução de despesas, o que deveria alavancar o lucro.
Alguma semelhança com as outras?
Mas as receitas não cresceram como esperado.
Enquanto a empresa conseguiu entregar o lucro através do corte de despesas, o mercado respondeu positivamente, mas quando percebeu que a expectativa de futuro era negativa, a resposta veio forte e rápida e o preço das ações despencou.
Ambev
Vamos ver o gráfico dos últimos 5 anos:
Em cerca de 1 ano, as ações caíram de R$24,00 para cerca de R$15,00, após um período de forte alta. Todavia, como foram os resultados nos últimos 4 anos (fonte: yahoo.com)?
Enquanto as ações dispararam, os resultados ficaram relativamente estáveis.
É claro que tivemos os anos de crise econômica e política, que impulsionaram toda a bolsa brasileira a partir de abril de 2016, mas no caso da Ambev, as expectativas pareciam ser demasiadamente grandes.
A aposta do mercado era que com a recuperação econômica o volume de vendas cresceria fortemente, gerando uma forte redução do peso dos custos fixos e alavancando o lucro.
A recuperação não foi tão forte, a empresa não vendeu tanto quanto esperava, os cortes de custos não foram suficientes e toda aquela expectativa positiva virou para o lado oposto, derretendo o valor das ações.
Será que a Ambev entregou o que o mercado esperava? (fonte: yahoo.com)
Mais uma vez vemos uma clara correlação entre a quebra de expectativa e a queda do valor das ações. Notem que a empresa atingiu a meta dos últimos dois trimestres, o que explica a recuperação mais recente.
Estes 3 exemplos mostram de forma muito interessante a relação entre valor e expectativa.
Temos também diversos exemplos de empresas cujos resultados presentes são muito ruins em relação ao valor de mercado das mesmas.
Por exemplo: Tesla e Amazon são empresas com resultados de lucro muito baixos ou negativos e com altíssimo valor de mercado. Temos também empresas que valem muito mais do que o resultado presente indica, como Google e Facebook, isso porque existe uma forte expectativa no mercado que o lucro dessas empresas será extraordinariamente melhor no futuro do que é hoje.
Portanto o valor presente da riqueza futura é bastante alto, mas é tudo uma questão de expectativa.
Temos no Brasil um caso clássico de valor e expectativa, que é a OGX, antiga empresa petrolífera de Eike Batista, conforme pode ser observado no gráfico (fonte: yahoo.com):
OGX
As ações da OGX partiram de um patamar muito baixo para valores estratosféricos em poucos anos, isso por conta do “toque de midas” de Eike Batista e também por um forte movimento especulativo chamado “efeito manada”, onde novos investidores são atraídos pelo crescimento passado e alimentam um crescimento irracional que cedo ou tarde cede à realidade.
Para quem tiver curiosidade, compare o gráfico da OGX com o da BITCOIN (fonte: yahoo.com).
O “efeito manada” funciona para cima e também para baixo.
Quando a expectativa de ganhos enormes acaba, os investidores saem rapidamente do investimento, fazendo o valor despencar.
Além disso temos mais dois fatores importantes que amplificam as quedas e subidas rápidas das ações.
Primeiramente o mercado é dominado por grandes fundos e investidores, que ao sair de uma posição causam um forte efeito de excesso de oferta (e vice-versa), desvalorizando ainda mais a ação e a atuação dos robôs, que analisam através de algoritmos os gráficos os resultados e movimentos de mercado, vendendo rapidamente ações que tem expectativa de cair, fazendo com que caiam de forma ainda mais acentuada do que deveriam.
Como vimos, a realidade cedo ou tarde cobra a sua conta.
Empresas tendem a alimentar expectativas positivas e minimizar riscos, muitas vezes prometendo mais do que conseguem cumprir, pressionando suas estruturas de forma mais intensa do que estas suportam.
Uma empresa responsável deve ter como prioridade a perpetuidade dos negócios, mesmo que isso venha a frustrar as expectativas de curto prazo do mercado, o que é difícil quando os líderes destas empresas são remunerados com ações ou opções e também quando são nomeados pelos fundos e investidores que controlam a empresa, que não aceitam perder valor em seus investimentos.
Acima de tudo, detectar previamente os exageros do mercado pode fazer a diferença entre um investimento bom ou ruim, ou seja, uma ação pode ser um péssimo investimento hoje, mas pode ser uma ótima oportunidade amanhã. Uma ação ser “cara” ou “barata” depende fortemente da correta avaliação em relação às expectativas de crescimento da empresa.
5 Dicas Para Investidores
- Se você é um investidor, fique atento aos exageros do mercado e ao excesso de expectativas.
- Fuja das aglomerações.
- Se sua tia, que nunca investiu em ações, lhe telefonar dizendo que todos estão investindo na empresa X, é sinal que está na hora de cair fora.
- Fique atento também aos movimentos exagerados do mercado.
- Se uma ação cair muito mais do que os seus resultados indicam, talvez seja a hora de comprar.
Quanto as ações das quais falamos acima, eu apostaria em forte recuperação da Kraft Heinz Company (KHS) e General Eletric (GE) nos próximos 2 anos.
Do mesmo modo, eu esperaria um pouco mais em relação à Ambev (falaremos disso num outro artigo), pois o risco de perder share e volume são relativamente grandes.
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